10/11/2006

O poderoso Chefão – Parte 2


Terei que ratificar algumas opiniões que proferi na parte 1, quando disse, por exemplo, que “O dinheiro, embora importante nas relações de poder, é quase que insignificante perante os valores de lealdade e laços de parentescos, entre outros”. Percebi ao assistir a segunda parte que está máxima é verdadeira em termos relativos, pois na segunda parte Coppola acrescenta uma dimensão histórica no enredo impossibilitando qualquer análise generalista que fiz. Esta parte mostra o início da construção do império Corleone e a continuação com o filho Michael. Mas ainda tais relações continuam importantes, pois cabe observar que o título original do filme é The Godfather, que na tradução literal seria “O Padrinho”, ou seja, acredito que Coppola teve como um dos principais objetivos foi mostrar as relações de apadrinhamento dentro de uma organização criminosa. É difícil apresentar com critério as passagens emocionantes que desenrola nesta parte, mas gostaria de terminar com uma frase marcante em que Michael está explicando alguns dos ensinamentos que seu pai lhe deu: “Mantenha seus amigos próximos, e seus inimigos mais ainda”.

9/26/2006

Noivo neurótico, noiva nervosa


Embora este seja o filme considerado por muitos críticos como a obra prima de Woody Allen, ele não atendeu minhas expectativas emocionais. Talvez seja porque eu estava com a vaga lembrança de Um estranho assassinato em Manhattan. Mas justiça seja feita, suas concepções são geniais. O primeiro aspecto e o mais geral possível: Alvy Singer (Woody Allen) com sua neurose e paranóia e confusões e elucubrações e ações faz com que pareçamos normais diante as turbulências que o mundo moderno nos impõe, digo impõe, pois é isso mesmo que ele mostra, trata-se de uma realidade que se acumulou durante a história e que criou circunstâncias e não pessoas essencialmente neuróticas. Evidente que existe uma dialética nesse processo e temos responsabilidade.
Outro aspecto geral e interessante que identifiquei no filme é que Woody Allen indica algumas possibilidades de como o mundo poderia ser diferente. É aí que entra os aspectos mais particulares do filme. O primeiro momento é quando ele e sua noiva Annie Hall (Diane Keaton) estão na fila do cinema e próximo a eles tem um senhor comentando sobre o trabalho de um diretor de cinema. O senhor está falando alto e com propriedade sobre o assunto. Alvy se irrita com a situação e num ato inesperado traz o próprio diretor em cena perguntando-lhe o que achava dos comentários do senhor da fila. Cena antológica! O assunto é resolvido e Alvy termina a cena virando-se para câmera e dizendo: “o mundo seria mais fácil se fosse assim...”. Paraxodalmente formidável. Outra cena interessante é quando Alvy define sua visão da vida e dividi-a entre horrível e miserável. A primeira e a vida das pessoas que sofreram alguma fatalidade, ou são portadores de alguma deficiência. Os restantes das pessoas vivem uma vida miserável. Confesso que no momento concordo plenamente com Allen. Finalmente alguém com quem posso compartilhar meu pessimismo analítico. São várias as cenas que descrevem concepções psicanalíticas do ser humano e suas relações amorosas que faltaria palavras para descrever. A título de ilustração cito o momento em que Alvy diz que percebeu sua tendência “neurótica” desde criança, quando se apaixonou pela Bruxa do filme da Branca de Neve. Sinceramente ainda não tenho condições de avaliar se minhas opções são semelhantes, pois afinal ainda não fiz 15 anos de psicanálise.

9/23/2006

Quero ser John Malkovich


Todo mundo terá seus quinze minutos de fama, mas depois deles o que acontecerá? Alguém já pensou nisso? De forma exótica e original o filme Quero ser John Malkovith nos apresenta algumas indicações sobre este estranho universo chamado fama. Craig, um titereiro desempregado, encontra trabalho em uma empresa no 7 ½ andar. Um dia encontra um portal atrás de um arquivo que leva as pessoas dentro da mente de John Malkovitch. Junto com sua colega, Maxine, interpretada por Cameron Dias, que aliás está irreconhecível, começam a fazer do portal um negócio rentável. O negócio dá certo porque a fila de pessoas comuns que querem ser famosas é grande e pagam U$ 200 para experimentar esse prazer por quinze minutos. A questão é que logo após eles são jogados na lama beira estrada. O fato é que as pessoas percebem o quanto é bom ser famoso, pois tudo é mais fácil. E Craig não foge a esta regra. Como era um profissional que manipulava bonecos, ele começa a manipular a mente de Malkovith e apresentar seus trabalhos de titereiro e todos dão crédito aos seus projetos que antes de nada serviam.
Um roteiro extremamente original com reviravoltas impressionantes, metáforas bem elaboradas e uma história nada convencional. Você fica com a impressão ou de ter assistido uma obra de arte, ou uma porcaria, ou ambos. Uma frase que Adorno disse encaixa bem neste filme: “Como seria bonito se, na atual situação, fosse possível afirmar que os filmes seriam tanto mais obras de arte quanto menos eles aparecessem como obras de arte”.
Um dos momentos mais excitantes é quando o próprio Malkovith entra dentro de sua própria mente. Nem Freud conseguiria explicar a dimensão da cena!
Uma crítica bem construída sobre o moderno mundo da fama e do individualismo que se consolida cada vez mais em nossa sociedade, Quero Ser John Malkovith sem dúvida nenhuma é uma obra de arte que marca a vida de qualquer amante da sétima arte.

9/13/2006

O poderoso chefão - Parte I


Dar apenas meu juízo de valor é inútil e mesquinho perante a complexidade e riqueza de sentimentos que o filme provoca. No entanto, não vou me aventurar a falar com conhecimento de causa sobre o filme, pois este não é o meu principal objetivo, também não teria competência para tal e com certeza ficaria superficial diante de tantos artigos e críticas que foram produzidas nos últimos 30 anos, depois que Coppola presenteou o mundo com sua obra de arte. Apenas gostaria de descrevê-lo na perspectiva de um admirador da sétima arte.
Dinheiro, honra, tradição, corrupção, vingança, violência e poder. Estes são alguns temas que Francis Ford Coppola trabalha com inteligência, competência e talento no épico, majestoso e clássico O poderoso Chefão. Um enredo complexo que mostra por dentro as tramas, os jogos de poder, as mentiras e a valorização da tradição familiar na Máfia Italiana dos anos 40, nos Estados Unidos.
Desde logo, o casamento da filha do Don Corleone já nos mostra que as relações de apadrinhamento não é mero pano de fundo da máfia, mas sua principal marca e centro organizativo. O dinheiro, embora importante nas relações de poder, é quase que insignificante perante os valores de lealdade e laços de parentescos, entre outros. O que provoca um choque cultural entre os valores norte-americanos e sicilianos, base étnica da família do Don Corleone. Este campo semântico é brilhantemente manifestado na primeira cena do filme em que o agente funerário oferece dinheiro para que o poderoso chefão vingue a dor de sua filha, injustiçada perante a lei americana. Esta cena já estabelece o tom que se seguirá o desenrolar dos acontecimentos no filme.
Uma cena que me envolveu de tal forma que meu coração acelerou e torci pelo anti-herói, foi o momento em que o filho Mike mata o traficante, mandante do atentado contra seu pai, e o policial corrupto. Um momento emocionante e uma reviravolta decisiva na seqüência dos fatos, pois a partir desse momento fica selado o novo chefão. Infelizmente, ainda não assisti a parte II, mas isto não é um problema, apenas uma situação que se resolverá semana que vem... até mais.