9/26/2006

Noivo neurótico, noiva nervosa


Embora este seja o filme considerado por muitos críticos como a obra prima de Woody Allen, ele não atendeu minhas expectativas emocionais. Talvez seja porque eu estava com a vaga lembrança de Um estranho assassinato em Manhattan. Mas justiça seja feita, suas concepções são geniais. O primeiro aspecto e o mais geral possível: Alvy Singer (Woody Allen) com sua neurose e paranóia e confusões e elucubrações e ações faz com que pareçamos normais diante as turbulências que o mundo moderno nos impõe, digo impõe, pois é isso mesmo que ele mostra, trata-se de uma realidade que se acumulou durante a história e que criou circunstâncias e não pessoas essencialmente neuróticas. Evidente que existe uma dialética nesse processo e temos responsabilidade.
Outro aspecto geral e interessante que identifiquei no filme é que Woody Allen indica algumas possibilidades de como o mundo poderia ser diferente. É aí que entra os aspectos mais particulares do filme. O primeiro momento é quando ele e sua noiva Annie Hall (Diane Keaton) estão na fila do cinema e próximo a eles tem um senhor comentando sobre o trabalho de um diretor de cinema. O senhor está falando alto e com propriedade sobre o assunto. Alvy se irrita com a situação e num ato inesperado traz o próprio diretor em cena perguntando-lhe o que achava dos comentários do senhor da fila. Cena antológica! O assunto é resolvido e Alvy termina a cena virando-se para câmera e dizendo: “o mundo seria mais fácil se fosse assim...”. Paraxodalmente formidável. Outra cena interessante é quando Alvy define sua visão da vida e dividi-a entre horrível e miserável. A primeira e a vida das pessoas que sofreram alguma fatalidade, ou são portadores de alguma deficiência. Os restantes das pessoas vivem uma vida miserável. Confesso que no momento concordo plenamente com Allen. Finalmente alguém com quem posso compartilhar meu pessimismo analítico. São várias as cenas que descrevem concepções psicanalíticas do ser humano e suas relações amorosas que faltaria palavras para descrever. A título de ilustração cito o momento em que Alvy diz que percebeu sua tendência “neurótica” desde criança, quando se apaixonou pela Bruxa do filme da Branca de Neve. Sinceramente ainda não tenho condições de avaliar se minhas opções são semelhantes, pois afinal ainda não fiz 15 anos de psicanálise.

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